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Reivindicações e tensionamentos na historiografia da canção no Brasil O potencial heurístico da crítica tropicalista.

Autor: Azevedo, Rafael (Universidade Federal de Minas Gerais)

 

Mail: rafaeljoseazevedo@gmail.com

 

Eixo temático escolhido é o "Memoria, historia y olvido: la especificidad del relato histórico y su relación con la construcción de la memoria individual y colectiva".

  

            Em certas narrativas historiográficas dedicadas à música popular no Brasil, a Tropicália é tomada como uma de nossas maiores expressões de resistência cultural (BAIA, 2011; CALADO, 1997; NAPOLITANO, 2007; TATIT, 2004). Sintetizado no álbum Tropicália ou Panis et circencis (1968) - produzido em conjunto por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Nara Leão, Gal Costa, Tom Zé, Torquato Neto e Rogério Duprat -, o tropicalismo ajudou a compor um quadro estético que se tornaria referência não somente no âmbito da produção musical no país como também no campo da crítica cultural.

            Celso Favaretto (2000) discute as expressões do movimento apontando suas características mais marcantes: postura irônica, paródia, desconstrução da fronteira entre alta e baixa cultura através de uma assimilação antropofágica, leitura de elementos da cultura pop, além do diálogo com vanguardas musicais e literárias. No fundamento desses elementos, está um projeto de leitura do passado histórico brasileiro que, em grande medida, tensiona as tradições da nossa canção. Dessa forma, o movimento é tomado como uma crítica contra tendências conservadoras que buscavam, nos anos 1960, fazer uma triagem cultural determinando aquilo que seria ou não genuinamente música brasileira.

            Esse caráter dinâmico das expressões tropicalistas sintetiza uma reivindicação dos seus protagonistas que buscaram negar a instauração de qualquer tipo de padrão em favor de uma leitura da sociedade como um conjunto de "relíquias" heterogêneo e instável. Nesse sentido, tomar os elementos tropicalistas como linhas de uma nova tradição para a música popular seria como que trair seus fundamentos. Podemos dizer, assim, que o programa estético e ideológico da Tropicália buscou minar, em termos ricœrianos, qualquer possibilidade de sedimentação nas formas de compor e produzir canções no Brasil. Como destacou Tom Zé, o tropicalismo não era para ser tomado como uma escola ou matriz, mas como procedimento de leitura crítica do passado (DUNN, 2011).

Repensarmos a crítica tropicalista em um momento em que se anuncia uma suposta crise formal da canção popular brasileira (BARROS E SILVA, 2009) pode significar perceber seu potencial heurístico dentro de uma possível hermenêutica da consciência histórica (RICŒUR, 2010). Por mais que a Tropicália tenha se "tradicionalizado" gerando sedimentações formais de grande força, tomar seu gesto de leitura de nossa cultura pode ser uma tentativa de redefinição das maneiras como somos afetados pelas narrativas e discursos que tomam a canção como um importante elemento constitutivo de nossa história.

Partindo disso e tendo em vista a retomada e também emergência de gêneros de canção ocultados nas páginas "oficiais" da crítica e da história da música no Brasil, propomos uma reabertura de nosso passado com base em uma série de reivindicações trazidas em discursos que se configuram em torno de uma "velha" e quase sempre esquecida tradição de canção popular: o gênero brega, uma espécie de canção tomada como de mau gosto, feita para vendagem exponencial, consumo ligeiro e fortemente atrelada a temáticas como paixões e amores mal sucedidos (ARAÚJO, 2002).

 

Referências bibliográficas

ARAÚJO, Paulo César de. Eu não sou cachorro não. Rio de Janeiro: Editora Record, 2002.

BAIA, Silvano Fernandes. A historiografia na música popular brasileira (1971-1999). Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciência Humanas da Universidade de São Paulo, 2011.

BARROS E SILVA, Fernando. O fim da canção (em torno do último Chico). In: Serrote, vol. 3. São Paulo: Editora IMS, nov. 2009.

CALADO, Carlos. Tropicália: a história de uma revolução musical. São Paulo: Editora 34, 1997.

CAMPOS, Augusto de. Balanço da bossa e outras bossas. Coleção Debates. São Paulo: Perspectiva, 2005.

DUNN, Christopher. O elo perdido do tropicalismo. In: PIMENTA, Heyk (Org.). Tom Zé. Coleção Encontros. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2011.

FAVARETTO, Celso. Tropicália Alegoria Alegria. Cotia: Ateliê Editorial, 2000.

KOSELLECK, Reinhart. Crítica e crise: Uma contribuição à patogênese do mundo burguês. Rio de Janeiro: EDUERJ: Contraponto, 1999.

NAPOLITANO, Marcos. A síncope das idéias: A questão da tradição na música popular brasileira. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2007.

RICŒUR, Paul. Tempo e narrativa. São Paulo: Editora WMF Martins Fones, 2010.

______. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora da Unicamp, 2007.

TATIT, Luiz. O cancionista: Composição de canções no Brasil. São Paulo: Edusp, 2002.

______. O século da canção. Cotia: Ateliê Editorial, 2004.

 

VELOSO, Caetano. Verdade tropical. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

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