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DE QUE HÁ LEMBRANÇA? DE QUEM É A MEMÓRIA? COMO SE LEMBRA? QUESTÕES SOBRE O ROMANCE NÃO FALEI, DE BEATRIZ BRACHER

Autor: Enders, Geise (Universidade de Brasília)

Endereço de e-mail: geise@enders.com.br

Eixo temático: Memória, história e esquecimento: a especificidade do relato histórico e sua relação com a construção da memória individual e coletiva.

 

De que há lembrança? De quem é a memória? São duas perguntas que Ricoeur (2007) lança em sua obra A memória, a história, o esquecimento, reflexões que considero inquietantes e que orientam minha pesquisa. Aplicadas ao caso particular de Gustavo, protagonista do romance Não falei (2004), as duas questões suscitaram-me ainda uma terceira: como se lembra?

Cada pessoa é única e as lembranças que é capaz de resgatar também o são. A memória humana não consegue reaver todos os momentos vividos e seus detalhes. Temos algumas lembranças rasas, de fácil acesso; outras que, com um exercício de rememoração conseguimos resgatar; mas há ainda aquelas das quais sequer temos conhecimento de sua existência até que algo externo a nós as resgata do palácio escuro de nossa memória. Duas pessoas que partilham um evento não se recordarão dele da mesma maneira, pois as diferentes visões de um mesmo ocorrido se corrigem e completam a cena. Por isso Ricoeur distingue três sujeitos de atribuição das lembranças: o eu, o coletivo e os próximos. A memória coletiva e a dos próximos completam a memória de um indivíduo e também atestam a existência dele. Com essas distinções temos ferramentas para analisar de quem é a memória na obra em questão.

O narrador de Não falei tem 64 anos, está se aposentando e preparando sua mudança para uma cidade do interior. No entanto, para fechar esse ciclo e entrar num outro, questões práticas e burocráticas que demandam tempo lhe fazem viver o que chama de “entreato da vida”, momento no qual visita sua memória e reconstitui sua trajetória. Alguns momentos o marcaram de tal forma que Gustavo sabe não ter como transmiti-los a ninguém, foram afecções impressas em sua alma. Sobre outras situações ele encontra na memória coletiva elementos que complementam suas lembranças. Pela memória dos próximos, Gustavo tem gratas surpresas que lhe fornecem meios de identificar elementos que lhe foram atribuídos, mas que não lhe pertenciam de fato. Seu trabalho de rememoração vamos conhecendo aos poucos, o enredo acompanha sua memória, desenrolando-se no mesmo ritmo em que suas reflexões se colocam e com o mesmo ordenamento que suas lembranças afloram, ou seja, sem uma sequência cronológica e sem um encadeamento lógico, de modo embaralhado, quebrado, como ele mesmo nomeia e como se dá, de fato, o surgimento das lembranças.

 

 

 

Referências:

BRACHER, B. Não falei. São Paulo: Editora 34, 2004. 152 p.

 

RICOEUR, P. A memória, a história, o esquecimento. Tradução Alain François et al. Campinas: Editora da Unicamp, 2007. 536 p.

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